Quando eu tinha 10 anos a minha melhor amiga precisou mudar com a família para outro estado. E, eu acreditava que ela iria morar longe e eu iria morrer de saudade, eu chorava desesperada. Até que minha mãe sabiamente me perguntou - "Você quer que ela seja feliz?" Eu respondi que sim. Então ela continuou - "Quando a gente ama uma pessoa, nós queremos que esta seja feliz mesmo longe da gente. Ela vai para outro lugar para ser feliz, mas continuará sendo sua melhor amiga." Estas sábias palavras foram confortantes, eu entendi que a minha amiga precisava mudar de cidade e que eu precisaria ser forte, precisaríamos nos dedicar para que pudéssemos permanecer unidas.
Nesse tempo não havia essas facilidades de hoje: e-mail, msn, orkut, facebook e blábláblá. As ligações telefônicas eram muito caras e nós nos comunicávamos por carta. Lembro como se fosse hoje, eu escolhia o mais lindo papel de carta (da minha coleção) para dar-lhe notícias e ela fazia o mesmo. Falávamos sobre como nos sentíamos, sobre a família, sobre os amigos e até mesmo sobre as notas da escola. Acho que gastávamos várias linhas tentando nos despedir, mandando inúmeros beijos para todos.Eu aprendi o que é o amor quando eu tinha 10 anos. Foi justamente quando eu perdi, e entendi que estava perdendo, pela 1ª vez.
Eu sentia uma saudade enorme dela; essa saudade, essa espera durou 2 anos. Depois desse tempo nos reencontramos e foi como se nunca tivéssemos nos separado. Partilhamos tudo o tempo todo que ficamos separadas.
Nós tínhamos a mesma idade, então vivíamos coisas muito semelhantes... sabíamos tudo uma sobre a outra. E, 17 anos após perdê-la pela 1ª vez, tive que perdê-la pela 2ª. Mas dessa vez só eu que senti saudade, porque ela se foi sem dizer adeus, sem ter tempo de se despedir, sem escolha pra voltar. Ela simplesmente se foi...
Todos os dias quando acordo eu sinto saudade dela e quando eu vou dormir eu não abandono esse pesar. Mas não estou reclamando. Eu quero sentir essa saudade sempre, até quando meu coração puder sentir. Porém, às vezes me dói não receber notícias dessa minha melhor amiga. Não existem cartas, e-mails, mensagens vindas de nenhum lugar. Existe apenas a lembrança do que um dia fomos e de tudo o que se eternizou.
É certo que a 2ª vez que ela partiu foi brusca e definitiva. No entanto era bem simples o seu querer, ela só queria ser feliz, e foi. Acredito que quando Deus já não podia mais salvá-la de todo o mal que a consumia Ele disse "vem, chegou a tua hora". Ela não esitou e foi... num único suspiro. Não que Deus não tenha a condição de tudo transformar, não é isso. Mas acredito que realmente havia chegado a hora dela se eternizar Bela, levando apenas o que de melhor a vida a oferecia - felicidade.
Cada um tem o seu mistério da existência, não me compete saber...
E, hoje, depois de alguns meses sem a minha grande amiga eu percebo quanto o sofrimento me fez forte, quanto amor existe em mim. Nenhum desânimo, nenhuma lamentação; às vezes um pouco de dor. E, a certeza que fomos feitos para perder, porque toda perda nos traz um ganho e que este seja o amor. O amor sem reservas, sem mesquinharias, sem condições ou avarezas.
E, hoje, depois de alguns meses sem a minha grande amiga eu percebo quanto o sofrimento me fez forte, quanto amor existe em mim. Nenhum desânimo, nenhuma lamentação; às vezes um pouco de dor. E, a certeza que fomos feitos para perder, porque toda perda nos traz um ganho e que este seja o amor. O amor sem reservas, sem mesquinharias, sem condições ou avarezas.
Que vivamos somente o amor na sua inteireza e tudo mais nos será acrescentado. O amor de quem nos pega pela mão e nos ajuda a caminhar... e nos ensina o caminho se preciso for, mesmo que para isso precisemos cair algumas vezes. Amemos! E, se isto implica em sentir saudades, sintamos.
Luana Campos